O Frankenstein da pós-modernidade

 

Twitter. Na academia, nada ainda se fala sobre o ‘fenômeno’ exceto, talvez, nas faculdades de comunicação, mas a sensação que eu tenho é que nós [os que se ocupam dos debates acadêmicos] sempre estaremos um passo atrás da velocidade com que o mundo da vida vem se transformando. Se alguém ousar me perguntar o que eu, que assisti incrédula a expansão do twitter na internet, penso sobre isso; não hesitarei em dizer que “eu tenho medo!” Não, não é o ‘medo’ da Regina Duarte; não é o medo do desconhecido que, por sinal, não à toa, assusta. Tenho medo que esse processo revolucionário ao qual passamos seja, de algum modo, interrompido.

E, sinceramente, não é um medo sem fundamento… Não estaríamos diante de um novo Frankenstein? Sim, todos se recordam da história: um jovem cientista, que recolhia restos mortais no cemitério da esquina, dá vida a uma criatura ao colocar-lhe um cérebro e disparar algumas descargas elétricas. Mas, para o seu desafeto, algo saiu errado na experiência! O cérebro seria de um bandido de alta periculosidade o que atribuiu à sua criatura uma personalidade não muito amigável. Assim, a criatura foge ao controle do criador e passa a ter vontade própria. Criatura e criador põem-se em oposição por desejarem coisas completamente distintas um do outro. O cientista o queria a seu serviço para consagrar-se na carreira, enquanto o abominável ser queria viver livre e distante dos seres humanos que o encaravam com anormalidade.

Qualquer semelhança é bem mais que mera coincidência: a internet é exatamente o Frankenstein dos nossos dias. Ela surgiu como mais uma dentre tantas promessas típicas do contrato social de uma sociedade democrática capitalista ocidental que aceita o máximo de liberdade possível, desde que seja benéfica ao consumo. E, oras, não é a internet uma ferramenta mais que benéfica ao consumo? Basta um clique para se ter bilhões de bens e serviços ao alcance das mãos [desde, é claro, que o cartão de crédito também esteja]. Consumo de bens e serviços diversos, mas não apenas… Consumo de informação!

Mas, caros amigos, desde o Frankenstein, não existe criação perfeita!

O criador lhe deu um cérebro e este não quis obedecer aos seus originais comandos. Os indivíduos se apropriaram da internet: não como passivos consumistas à espera dos salões científicos onde seríamos apresentados como a cura de todos os males [à saúde do mercado], mas como monstros indomáveis dotados de vontade própria. Sim, saímos da escala de consumidores de informação para nos posicionarmos como produtores e negociadores dela. Qualquer indivíduo em alguns segundos pode criar uma rede interminável de contatos, acessar e produzir informações que circulam, via twitter, a uma velocidade instantânea.

Até aqui, tudo bem, tudo sobre controle! O monstro tinha aprontado algumas, mas nada que pusesse em risco a vida do seu criador! A internet competia com a velha e oligárquica mídia e esta vinha buscando, ainda que sem muito sucesso, se adaptar ao fato de não haver mais o tradicional furo de reportagem ou informação exclusiva e ninguém tocava nas feridas mais profundas… Estas últimas semanas, entretanto, o ‘Estado’ [esta figura emblemática, soberana e intocável], com as bombásticas revelações do Wikileaks, descobriu que havia certas falhas no ‘contrato’: pode-se garantir o máximo de liberdade possível benéfica ao consumo [e deve-se acrescentar], desde que não ponha em risco a autonomia das intenções espúrias do seu criador! E, devo dizer, muito provavelmente as verdades reveladas pelo wilileaks não teriam o mesmo impacto se não existisse o twitter para disseminar viralmente seu conteúdo. O criador se tocou: a criatura quer bem mais que liberdade; a sua personalidade pouco amigável, de repente demonstra desafiar as suas leis.

O que significa ao governo norte-americano, que controla a internet do mundo, se sentir vulnerável à simples circulação de informações? O que significa, ainda, a uma potência detentora das mais avançadas máquinas de destruição em massa, se sentir vulnerável a simples ataques de hackers que não ultrapassam a esfera virtual? Estaria o Victor Frankenstein da nossa história, se sentindo ameaçado por sua própria criatura? E, finalmente, seremos capazes de nos libertarmos do criador sem marcas profundas? Ou melhor, seremos capazes de nos libertarmos? Meu ‘medo’ é que, assim como a criatura do Frankenstein, a internet seja percebida como uma criação danosa à saúde do Estado enquanto potência autônoma, soberana e inquestionável.  Pois, uma vez com sua saúde ameaçada, o criador não hesitará em aniquilar sua criatura.

53 comentários em “O Frankenstein da pós-modernidade

  1. Janaina disse:

    Gostei MUITO do texto!! bem escrito, interessante, divertido e perspicaz, prende a atenção.. (e olha q eu n sou de ler posts inteiros) Parabéns!!

  2. Olá Tássia!
    Precisei deixar um comentário. Gostei muito do texto, bem escrito, bem analisado. Não tive como não deixar de acompanhar o blog. Fico menos infeliz quando vejo que existem pessoas pensantes neste mundo, mesmo que sejam poucas, já é alguma coisa. Parabéns!

    • bonecapensante disse:

      Obrigada Carolina pelo comentário e por acompanhar meu blog! A possibilidade que um comentário abre pode ser representada aqui, pois eu também adorei o seu blog e vou colocá-lo na minha lista de ‘blogs que eu leio’! Um grande abraço!

  3. Geraldo, S. disse:

    Há muitos pontos aqui.
     
    Eu quero lhe propor a apresentação de alguns pontos de vista, então sugiro que coloquemos assim:
     
    1. “Contrato Social”
    2. WikiLeaks
    3. Materialismo
     
    Acredito haverem algumas outras questões – diversas – que serão englobadas por esses pontos.

  4. Geraldo, S. disse:

    Droga, um contratempo justo agora.
     
    Preciso me ausentar sem dar continuidade, mas se chegar a ler isto antes que eu tenha acrescentado a continuação, saiba que:
     
    “Eu voltarei!” (Muhahahahahaha!)
     
    Nos “falamos” em breve…

  5. Geraldo, S. disse:

    Primeiramente eu quero desarmar a resistência desnecessária que pode ser gerada pelas palavras seguintes, interferindo em sua compreensão, dizendo: NÃO tenho posição farovável à regulação (específica) da Internet; mais do que isso: julgo que seria a ideia mais idiota do século – que, enquanto tal, poderia ainda vir a ser superada por outras consequentes, devido à ele (o século) estar apenas começando e nós (humanos) termos “potencial” para tanto.
     
    Então, vamos lá (buscarei ser tão sucinto quanto possível)…
     
    1. “Contrato Social”
     
    A liberdade da qual desfrutamos em Sociedade, ao custo de outras tantas (suprimidas), só é possível graças ao conjunto de “cláusulas” estabelecidas e aqueles que as fazem cumprir. Em outras palavras: sem Leis, sem coerção de liberdades, não existe Sociedade; e consequentemente não existirão as “garantias sociais” da liberdade propiciada por ela.
     
    Nesta Sociedade na qual vivemos não é possível expressar, sem que hajam consequências sociais – e falo daquelas previstas -, publicamente preconceitos através de discriminação. Apesar de a Mãe Natureza me fornecer esta liberdade, de ser um preconceituoso discriminatório.
     
    Nesta Sociedade na qual vivemos não é possível expressar, sem que hajam consequências sociais – as previstas -, descontentamento através de violência, e ferir, ou eventualmente eliminar, desafetos. Apesar de a Mãe Natureza me fornecer esta liberdade, de ser um agressor homicida.
     
    Nesta Sociedade na qual vivemos não é possível expressar, sem que hajam consequências sociais – previstas -, idealismo atentando contra a estabilidade da Diplomacia Internacional, colocando em risco a Segurança Nacional de diversos Estados e violando a confidencialidade legal de assuntos Estatais. Apesar de a Mãe Natureza me fornecer esta liberdade, de sabotar a Estrutura Social.
     
     
     
    O que estou dizendo é: sem uma representatividade garantidora, não existe o papo de que “seu direito termina onde começa o meu”. Isso só é válido enquanto o Indivíduo se predispõe, por conveniência, a não rasgar o “Contrato Social”; e a maioria aceita que puna-se, normalmente enjaulando, os “subversivos”.
     
    Fiz questão de começar por aqui para mostrar que, ao meu ver, a pergunta principal não é: “Seremos capazes de nos libertarmos?”; mas sim: “Será que seria realmente conveniente nos ‘libertarmos’?”. Porque a única diretriz existente para além das civilizações é a da Natureza. Bem mais “permissiva”, e bem menos “civilizada”.
     
    Julgo essa uma boa questão para libertários.
     
     
     
    Pode ser que Governos não sejam necessários até a extinção da Espécie, mas – baseado em análise, julgamento e veredito particulares acerca do Estereótipo Humano atual – concluo que não estejamos nem perto de sequer cogitar seriamente talvez algum dia haver uma remota possibilidade desse desvínculo. Digo, de ele ser viável enquanto aliado ao “Bem Estar” como o concebemos. Por outro lado: o controle ao qual nos submetemos tem limites. E aqueles escolhidos dentre nós para exercê-lo não detém “carta branca”. Muitos que se esqueceram disso já foram, e muitos que se esquecerem ainda serão destituidos. De uma forma ou outra. (E imediatamente substituídos por outros.)
     
    2. WikiLeaks
     
    E então, Boneca?! O que você me diz sobre Julian Assange, seu suposto ideal anárquico (“Liberdade plena de Informação”) e o WikiLeaks?

  6. bonecapensante disse:

    Bem, sua provocação é muito complexa. Responderei em 2 ‘blocos’. Primeiro, começarei do final que é a parte mais simples e depois tentarei falar um pouco sobre a sua questão mais fundamental :

    “E então, Boneca?! O que você me diz sobre Julian Assange, seu suposto ideal anárquico (“Liberdade plena de Informação”) e o WikiLeaks?”

    Sabe o que é curioso sobre o Assange? Ele está muito, mas muito longe mesmo dos pensamentos revolucionários anarquistas libertários.

    Se vc tiver tempo e curiosidade, veja aqui essa carta que ele escreveu: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-artigo-de-julian-assange?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

    A meu ver, os princípios do Wikileaks estão em perfeita consonância com as teorias democráticas da ‘escolha racional’ que vêem na ‘comunicação perfeita’ condição primária para a escolha mais racional.

    Veja a frase:
    “As pessoas afirmaram que sou anti-guerra: que fique registrado, eu não sou. Algumas vezes, nações precisam ir à guerra, e simplesmente há guerras. Mas não há nada mais errado do que um governo mentir à sua população sobre estas guerras, e então pedir a estes mesmos cidadãos que coloquem suas vidas e o dinheiro de seus impostos a serviço destas mentiras. Se uma guerra é justificável, então diga a verdade e a população dirá se deve apoiá-la ou não”

    Assange é mais contratualista que o próprio Estado. Talvez seja o contratualismo puro de que deve haver uma moralidade na política e que o contrato deve ser honrado dos dois lados.

  7. bonecapensante disse:

    Agora vamos à questão mais problemática que se divide em 2: uma que se refere ao contratualismo e outra que remete diretamente a minha frase “seremos capazes de nos libertarmos?”

    vou começar de baixo para cima, mais uma vez:

    Quando usei “seremos capazes de nos libertarmos?” falei num sentido muito específico, mas agora vejo que a frase ficou dúbia; mesmo porque não esclareci do que exatamente eu tava falando.

    No momento em que eu escrevi, entretanto, tava usando de um tom ‘apocalíptico’. Pois, a meu ver, o Wikileaks inaugura na comunidade internacional uma preocupação até então invisibilizada. Eu acredito que, daqui pra frente haverá [a meu ver] uma busca acelerada pela regulamentação/restrição da internet.

    Se o Estado, como acreditava Marx, está sempre a serviço das empresas, no ‘caso Wikileaks’, vimos uma reversão: a grande mídia se calou, as empresas de cartão de crédito cancelaram o acesso às contas e doações de dinheiro e até o twitter retirou do ‘Top thems’ qualquer tipo de menção ao wikls ou a Assange. Por outro lado, os harckers e grupos anarquistas se solidarizaram e iniciaram uma verdadeira guerra online contra o Estado e as empresas diretamente envolvidas. Neste contexto aqui posto, a ‘libertação’ seria de conseguir manter a internet com a liberdade de comunicação que temos hoje.

  8. bonecapensante disse:

    Entretanto, apesar de não ter tido a intenção, a frase dúbia veio a calhar e talvez se explique como uma arte do meu subconsciente, pois, de fato, qndo eu escrevi, não estava pensando no ‘contrato social’ embora eu mesma tenha utilizado-o algumas vezes no texto. Mas, sabe, agora eu fico até contente que assim possa ter parecido, pois algumas coisas devem, sempre que possível, serem ditas sobre tal ‘contrato’.

    A primeira delas é a mais elementar de todas: Não existe ‘contrato social’. E não estou falando no sentido concreto de que as pessoas não pegam a canetinha e não assinam nada; eu falo em todos os sentidos. O próprio Rawls [neo-contratualista] já parte do pressuposto de que não há escolha por parte dos indivíduos; eles já nascem tendo que aceitar a sociedade como ela é. [como, por sinal, vc muito bem apontou].

    Mas, supondo que seja permitido falar em contratualismo para que sejamos capazes de compreender noções de ‘bom viver’ [bem estar]… Me responda: o ‘contrato’ existe para quem? Para as sociedades ocidentais? Se assim escolhermos, de cara, excluímos do contrato, metade do mundo. Mas continuemos: acrescentemos aí a palavrinha ‘democráticas’ e excluiremos mais uns 30% do mundo. E olha que eu nem cheguei no fundamental que são as cláusulas do contrato para observarmos o quanto o termo em si é problemático. Mas, vamos rapidamente à cláusula fundamental que genericamente pode ser traduzida assim: ‘abre-se mão de certa liberdade em troca de segurança’. Aí eu me pergunto, olhando para o nosso próprio umbigo, isto é uma realidade? Porque, ao que me parece, é uma realidade para os ricos sem sombra de dúvidas; para a classe média, um pouco… Mas, para o jovem favelado que vive expondo diariamente sua vida ao risco, isso não é uma realidade.

    Sem falar nos riscos de um atentar contra a vida do outro, tem os riscos de guerras, epidemias, tragédias ‘naturais’, tem-se o risco do próprio Estado atentar contra sua vida; mas, não podemos esquecer que o contratualismo preza, acima de tudo, a defesa da propriedade privada. E se chegarmos aqui, aí mesmo é que o ‘contrato social’ fica mais problemático, pois a grande e esmagadora maioria é proprietária apenas de sua força de trabalho. Mas Locke [outro contratualista liberal original clássico], dizia que o indivíduo passa a ser ‘proprietário’ de uma terra quando despende sobre ela sua força de trabalho. Ele então passa a exercer o direito sobre os frutos do seu trabalho, não exatamente sobre a propriedade. Subentende-se o quê? Quem trabalha na terra é dono dela.

    Então, se não estamos com Hobbes, muito menos com Locke, com quem estamos? Ora, se o contrato remete tanto a segurança quanto a propriedade, não há sociedade ocidental democrática moderna que eu conheça que cumpra o contrato nos seus termos originais. Portanto, não há contrato. Mas, se há contrato em algum lugar, certamente não há no nosso país. Talvez haja ou tenha havido na Europa pós-muro-de-Berlin [com seu frágil e passageiro well faire state]. O que há hoje é apenas coerção sem o cumprimento das partes. Assim sendo, a resposta é sim, eu acredito que seria conveniente nos libertarmos. Não necessariamente como retrocesso a um ‘estado de natureza’ [que, a meu ver, é também outro termo problemático], mas eu sempre defendo o seguinte: é possível pensar em soluções não tão óbvias. Se estivermos buscando respostas nos modelos existentes, estamos de cara já fracassados. Porque cada tempo deve, necessariamente atender à sua realidade e suas demandas. As soluções são moldadas à medida em que a sociedade caminha.

  9. bonecapensante disse:

    Desculpa, a resposta ficou enorme… vc tem blog, twitter, facebook? Um braço!

    • Geraldo, S. disse:

      NÃO DESCULPO! 🙂
       
      Sobre ter um blog: talvez algum dia.
       
      Twitter eu tenho, apesar de não ser frequente sua utilização: é “Gourse” (http://twitter.com/#!/Gourse). Mas o fiz exclusivamente porque poderia ser útil – sem necessidade presente, à época -, então não há nele grande atividade – e nem uma foto que me faça justiça. Pode ser, em um futuro próximo…

  10. Geraldo, S. disse:

    Parcialmente, houve falta de sensibilidade minha perante sua veia cinematográfica por não ter contextualizado corretamente o seu “Apocalipse”. Saiba porém que pequei por excesso. “Libertação” é um termo tão forte quanto subjetivo, e talvez aqui você concorde comigo. Remeti sua utilização (e aqui eu errei) a outro termo igualmente forte mas nem tão subjetivo assim: ruptura. Mas não é de ruptura que você falava – ao menos “contratualizarmos” esse contato foi útil para o meu “Cartão de Visitas”. Você falava de adequação. Adequação do criador às necessidades – autônomas – inerentes à sua criatura. E sendo assim, felizmente parte*** do que escrevi foi útil para manifestar meu pensamento a respeito.

    • Geraldo, S. disse:

      *** “(…)Por outro lado: o controle ao qual nos submetemos tem limites. E aqueles escolhidos dentre nós para exercê-lo não detém “carta branca”. Muitos que se esqueceram disso já foram, e muitos que se esquecerem ainda serão destituidos. De uma forma ou outra. (E imediatamente substituídos por outros.)”

  11. Geraldo, S. disse:

    Sobre nosso Robin Hood da informação, que rouba dos poderosos para distribuir à qualquer um capaz de se conectar ou assistir televisão… preciso dizer que nossa visão sobre seu grau de contratualismo é divergente, uma vez que sua cruzada acontece à margem da legislação e não parece medir com precisão aceitável as consequências (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/841393-wikileaks-divulga-locais-vitais-para-seguranca-dos-eua-brasil-esta-incluso.shtml).
     
    Para mim, é tão válido que sejam levadas às últimas consequências – falo daquelas, do contrato – as denúncias, que eventualmente apareçam, como os métodos através dos quais foi obtido seu material. Afinal, em um mundo onde não importa como o “furo” foi conseguido, a tendência é que o próprio se torne irrelevante diante do contexto. Em uma linha de raciocínio contrário: a eventual espionagem dos EUA às demais nações, ou à ONU, deveria ser absolvida nos casos em que conseguissem através dela obter resultados comprometedores a respeito dos espionados.
     
    (Estou respondendo por partes, para se tornar mais simples à nós dois)

  12. Geraldo, S. disse:

    Votemos ao nosso “Contrato Social”. E voltemos partindo da cláusula (poderíamos chamá-la de “pétrea”) que o representa no contexto desta discussão: a Estabilidade Social; ou a Segurança; ou a Ordem Social.
     
    Em primeiro lugar é importante, para que possamos desenvolver, concordarmos no seguinte aspecto: “Perfeição” é um conceito humano subjetivo, relativo, que jamais se traduzirá em realidade ecumênica.
     
    “Perfeição” é utopia.
     
    Posso afirmar com a matemática probabilística, estatística, tendo também biologia e sociologia (sua área) ao meu lado: jamais nossa realidade, humana, independentemente de sua potencialidade, será plenamente satisfatória ao seu objeto, humano.
     
    Agora, se não houverem objeções aqui, continuo. (Peço que fique tranquila em relação às contestações potenciais ao desenrolar deste raciocínio, porque na continuidade certamente haverá margem para que as apresente)

    • bonecapensante disse:

      rsrs… Não há objeções… pode continuar à vontade!

    • Geraldo, S. disse:

      Faltou responder a uma pergunta sua: no que me concerne, não estou especificamente com Hobbes, com Locke, com Smith ou (menos ainda) Marx. Estou, sempre, assim como (acredito) esses senhores, em busca do acompanhamento das madames Lógica e Razão.
       
       
       
      Preciso fazer um acréscimo: a satisfação, supracitada, representa a completa ausência da necessidade psicológica e física de buscar “algo mais”, além daquilo que se faz presente, circunstância que presume ideal funcionamento do todo de modo a invalidar qualquer futuro anseio. Representa, segundo determinada ótica – dentre as infinitas possíveis -, a “Perfeição”.
       
      Não pode ser tão difícil concordar que traduz-se em utopia o parágrafo acima. Que há utopia ao tratarmos da “Perfeição” de nosso contexto.
       
       
       
      Aguardo seu endosso, para tratarmos então de quem delimita a linha do “meio-termo”, e onde, dentre outros.

  13. Geraldo, S. disse:

    Pois bem, Doçura, digo, Boneca…
     
    Você sabe como são esses contratos! Difíceis de cumprir!
     
    O nosso contrato “Constituição Federal”, para partirmos de um exemplo caseiro, reza que o Salário Mínimo deveria ser suficiente para darmos a volta ao mundo – ou quase isso -, mas, assim como no caso dos líderes religiosos, a moeda de troca dos políticos são confortáveis promessas, em detrimento da realidade despida.
     
    Diagnósticos, frios, não trazem fiéis, é a Esperança vence eleições! Uma pena. Pois o primeiro retrata os moldes da realidade, enquanto o segundo por vezes a projeta para além dos seus limites.
     
    Conversa apetitosa, que estamos tendo, mas vou precisar interromper.
     
    Já advirto de antemão: o fígado terá de ficar em segundo plano para que os cérebros possam nos levar, de fato, a uma esfera que não contemple unicamente o desejo de um mundo “melhor”.
     
    Esteja preparada!

    • Geraldo, S. disse:

      “(…)é a Esperança que* vence eleições! Uma pena. Pois os* primeiros* retratam* os moldes da realidade, enquanto essa* segunda*…”
       
      Nos “vemos”!

  14. Geraldo, S. disse:

    Olá Boneca!
     
    Como eu sei, e você sabe, do escopo da Racionalidade tudo aquilo que é causa de nossas ações tem um fundo filosófico. Uma “razão de ser”. Com a Política não é diferente. É na Política – mesmo nos casos onde o método de sua aplicabilidade não é tão sofisticado, como em tribos – que se baseiam as sociedades. Porém o que proponho aqui é não nos atermos a esse produto da filosofia, mas irmos direto à filosofia desse produto.
     
    A Política, assim como absolutamente todos os demais produtos filosóficos, tem por finalidade última a satisfação humana. Porque é a isso que se resume para nós: Satisfação. Não importa se física ou psicológica. Tudo o que você faz conscientemente, tudo o que eu faço conscientemente, sem qualquer excessão, é para, em última instância, nos satisfazermos (ao Ego).
     
    Do filantropo que divide seu almoço para se sentir bem com o sorriso do próximo ao misantropo rancoroso e manipulador, a Satisfação Pessoal é nosso agente motivador exclusivo. Imperativo. Cujos impulsos se dividem em Emocionais e Racionais.*
     
    “Altruísmo”, puro como se concebe, não existe. É impossível sacrificar a própria Vontade; pois, quando supostamente é feito, assim o é por nosso desejo. Somos escravos do que queremos.
     
    Então deixa eu partir com três perguntas:
     
    Qual é seu interesse (em última instância sempre voltado ao Ego, vale enfatizar), ao desejar o Bem Estar daquele que mora na favela; do que sofre no Haiti; daquele que passa fome na Somália?
     
    Dado que o Universo não foi pautado no (torpe) ideário humano de “Igualdade” e “Justiça” – e na verdade nem foi sequer “pautado” -, e que a vida não é “justa” (segundo o Senso Comum Humano de “Justiça”), porém, felizmente, nem obrigatória, como pode dizer que um Indivíduo** não tem escolha***, independentemente da circunstância?
     
    Se um Indivíduo**, ao deparar-se com as “cartas” – nem sempre boas – de sua Existência Consciente, e com a possibilidade de não precisar ficar com elas (da morte), decidiu – porque se trata de escolher – viver, quem pode dizer, contrariando-o, que sua vida não é válida? (Pois vale lembrar: “mais”, nós sempre iremos querer; “pouco” e “muito” são relativos; o ponto é julgar se vale (OU NÃO) a (potencial) pena buscar, partindo daquilo que se recebeu – algumas vezes uma residência mal localizada, em outras nem mesmo os quatro membros do corpo)
     
     
     
    Estou certo de que a égide da (cronologica/geograficamente volátil) Moradalide, do “Certo” e “Errado”, do “Bem” e “Mal”, do “Bom” e “Mau” pode parecer extremamente confortável, mas ao longo de toda a história da Humanidade, passando por Religião e Política, tais conceitos, tão abstratos, longe de serem a pretensiosa “Verdade” (inconteste), jamais passaram de um embuste para justificar uma coisa maior: Conveniência. Conveniência de quem?! Humana. De quais humanos?! Daqueles que (opcionalmente) se habilitam a buscá-la e conseguem alcançá-la. Não é perfeito; é viver.

    • Geraldo, S. disse:

      * No meu caso, ações e diretrizes pessoais costumam estar a cargo do segundo tipo, que compensa a ausência de Fraternidade com Sobriedade, fazendo assim com que eu me atenha à Realidade em detrimento daquilo que ela supostamente poderia (ou deveria) ser. Paradoxalmente, é uma maneira mais efetiva de se adaptar a ela e mesmo manipulá-la, porque não parte de anseios, mas observações – é mais desagradável, e confiável.

      ** Indivíduo: todo Ser Racional, humano mas não necessariamente, que passou a possuir consciência de “Vida” e “Morte”. Este é o meu Indivíduo.

      *** Opções nem sempre significam boas alternativas, e viver ou morrer certamente são duas delas, sempre presentes; mas se deseja a alternativa (não subversiva nem suicida) à Sociedade, lhe recomendo um dos meus filmes favoritos: “Instinto” (Instinct, 1999)

  15. bonecapensante disse:

    Ai meu Deus, vc está querendo me pegar eim? Vou tentar ser cautelosa… rsrs
    Quero comentar algumas frases:
    ‘A Política, assim como absolutamente todos os demais produtos filosóficos, tem por finalidade última a satisfação humana’
    [Com relação a essa frase queria tecer apenas um breve comentário, para q fique claro onde eu concordo e onde eu discordo de vc]
    R: Eu não sei exatamente o que vc quer dizer com ‘produtos filosóficos’, mas a meu ver, o simples fato de transformá-la em um ‘produto’ ‘filosófico’ já é algo problemático. O objeto da política é o conflito e, eu diria, ‘conflito material’ lhe dá com os indivíduos e seus conflitos, jogos de interesse, vontades díspares. Por outro lado, sim, concordo q em ultima instância a finalidade é a satisfação humana como tudo no mundo.
    ‘“Altruísmo”, puro como se concebe, não existe. É impossível sacrificar a própria Vontade; pois, quando supostamente é feito, assim o é por nosso desejo. Somos escravos do que queremos.’ ‘Qual é seu interesse (em última instância sempre voltado ao Ego, vale enfatizar), ao desejar o Bem Estar daquele que mora na favela; do que sofre no Haiti; daquele que passa fome na Somália?’
    R: Já percebi que você é extremamente racionalista; o que eu penso sobre isso? Que é do ser humano racionalizar as coisas, suas ações, dar sentido a sua existência, blá blá blá. Eu sinceramente, não sei responder à sua pergunta, mas eu acho que o ‘homem racional’ não necessariamente é uma verdade absoluta. Não necessariamente somos racionais o tempo todo. E, não necessariamente desejamos o bem do outro por hipocrisia. Veja o exemplo do cachorro. Um animal, supostamente irracional. Quantos casos você vê que o animal deu a vida pra salvar o seu dono? Ele fez por extinto? Por meritocracia? A mim, ele fez por amor; e uso o exemplo do cachorro pq não podemos dizer que é para preservação de sua espécie [como poderia ser o caso de uma mãe que protege sua cria]. Agora voltando ao ser humano, pq não aceitamos a simples idéia que um homem pode agir ou pensar por amor ao próximo? Lembro do caso de um motorista do trator que se recusou a destruir a casa de uma família. Se ele agisse racionalmente cumpriria ordens e manteria seu emprego. Ele agiu por meritocracia? Não acredito nisso. O homem chorava como uma criança de 3 anos de idade.
    Dado que o Universo não foi pautado no (torpe) ideário humano de “Igualdade” e “Justiça” – e na verdade nem foi sequer “pautado” -, e que a vida não é “justa” (segundo o Senso Comum Humano de “Justiça”), porém, felizmente, nem obrigatória, como pode dizer que um Indivíduo** não tem escolha***, independentemente da circunstância?
    R: O universo não existe a priori. Tem um filósofo do qual gosto muito chamado Berkeley que afirma que algo só passa a ter existência quando percebido por uma mente. Neste sentido não se pode conceber a existência de qualquer coisa que seja sem agregar valores e percepção de quem o percebe. Pode, por ex, haver centenas de cores ou formas imperceptíveis à visão ou ao tato que, portanto, não existe. A percepção por seu lado é um produto cultural no sentido de que a partir do momento que percebemos algo e ele passa a existir em nossa mente, atribuímos a ele valores, sobremaneira, humanos. Então o universo não está ‘livre’ do ideário humano e ‘igualdade’ e ‘justiça’ desde que a sociedade que o perceba, assim conceba. A nossa sociedade ocidental democrática cristã, deste modo, tem sim todo o aporte para justificar o universo de acordo com tais padrões.
    “Se um Indivíduo**, ao deparar-se com as “cartas” – nem sempre boas – de sua Existência Consciente, e com a possibilidade de não precisar ficar com elas (da morte), decidiu – porque se trata de escolher – viver, quem pode dizer, contrariando-o, que sua vida não é válida? (Pois vale lembrar: “mais”, nós sempre iremos querer; “pouco” e “muito” são relativos; o ponto é julgar se vale (OU NÃO) a (potencial) pena buscar, partindo daquilo que se recebeu – algumas vezes uma residência mal localizada, em outras nem mesmo os quatro membros do corpo)”
    R: Mais uma vez recorro à moral cristã. Foi ela quem incorporou em nossa sociedade o direito de que pessoas com deficiências diversas tivessem o mesmo status de ‘humano’ que uma pessoa completamente saudável. O infanticídio é uma realidade milenar e o ‘direito à vida’ é uma construção recente. Ou seja, até o sentido da vida e da morte é uma construção cultural e varia de tempos em tempos. Agora sobreviver sim, a meu ver, é extinto e não cultural. É fácil atentar contra a vida alheia, mas atentar contra sua própria vida é um ato de extrema racionalidade. O que me leva a crer que nem sempre viver é uma escolha racional, mas se mesmo em condições adversas, os indivíduos não se matam, não seria isso um forte indício que não somos 100% racionais? O sentido que qualquer indivíduo atribui à sua própria vida é muito mais complexo que uma racionalização da sua própria existência no mundo.
    Continua…

  16. bonecapensante disse:

    stou certo de que a égide da (cronologica/geograficamente volátil) Moradalide, do “Certo” e “Errado”, do “Bem” e “Mal”, do “Bom” e “Mau” pode parecer extremamente confortável, mas ao longo de toda a história da Humanidade, passando por Religião e Política, tais conceitos, tão abstratos, longe de serem a pretensiosa “Verdade” (inconteste), jamais passaram de um embuste para justificar uma coisa maior: Conveniência. Conveniência de quem?! Humana. De quais humanos?! Daqueles que (opcionalmente) se habilitam a buscá-la e conseguem alcançá-la. Não é perfeito; é viver.

    Como discordar? Concordo

  17. Geraldo, S. disse:

    Aqui vão considerações e esclarecimentos…
     
    Produto filosófico. Leia-se: produto da Filosofia. De processamento racional do Meio (que inclui o Alheio) visando a “melhor” – mais satisfatória – compreensão e/ou interação possível com o mesmo.
     
    Assim como você, não tenho a Racionalidade como “Verdade” (absoluta), e nem verdade particular. É apenas a única ferramenta que temos, além do Instinto, para interagirmos com o supramencionado Meio. Cogitar a “Verdade”, ou mesmo a própria “Racionalidade”, já é, por si só, estar sendo Racional.
     
    Desejar o “Bem” do Próximo pode ser hipocrisa (falso), mas (concordamos novamente) não necessariamente o é. Contudo, o desejo (legítimo) do “Bem” alheio é seu. É meu. E aliás, por vezes diverge do próprio “Bem” concebido por esse alheio.
     
    O “Bem” do Próximo Pode ser um desejo movido por sua Racionalidade ou sua Emotividade (instintiva), por minha Racionalidade ou por minha Emotividade (instintiva), mas é seu, é meu. É você buscando se satisfazer através do Outro. Sou eu buscando me satisfazer através do Outro.
     
    (Estou postando incompleto, porque tinha voltado minha atenção a uma outra atividade, só para te dar um “aperitivo”… mas já chegaremos no seu cachorro, ao Messias e onde mais tivermos de ir…)

  18. Geraldo, S. disse:

    A preservação de si, da prole e adjacências (isso pode incluir um dono, ou uma dona) é instintivo – sendo fruto também de uma espécie de processamento (não-racional, baseando-se em como concebemos a Racionalidade) – para os animais. (Concordo: agora eu pareci uma máquina falando.) O que eu estou enfatizando aqui é: nosso Instinto também é uma ferramenta para lidar com o Meio. Que compartilhamos com os demais animais. Então aqui nós discordamos: para mim, é preservação. Penso assim porque também existem casos de animais que passam a viver em grupos aos quais não pertencem originalmente e são “incorporados à família”.
     
    (O filme “Instinto”, que mencionei e do qual estou razoavelmente seguro da sua aprovação – porém não me agradeça ainda -, aliás, “ficcionaliza” (Aurélio 2012: trazer para a ficção) tal circunstância.)
     
     
     
    Agora vamos falar de Amor, Boneca!
     
     
     
    “Amar: admitir para si que algo ou alguém faz, verdadeiramente, a diferença.”
     
    (É minha.)

    Desnecessário dizer que discordamos sobre isso, visto que eu precisaria forçar a semântica para traduzir “instinto de preservação compartilhado por todos os animais” na concepção humana de “Amor”.

    • Geraldo, S. disse:

      Me ocorreu que faltou eu dizer uma coisa: apesar de não ser necessariamente “amor”, segundo algumas concepções – a minha, por exemplo -, não quer dizer que os animais deixem de, partindo de uma certa ótica, “se afeiçoar”.
       
      Muitas de nossas rotuladas “emoções” são instintivas.
       
      (Longe de mim querer minar a sua relação com seu(s) pet(s)…)

      • bonecapensante disse:

        Moço, acho que vc tá sempre muito preocupado demais em tornar o ser humano previsível. Ou racionalidade ou instinto. ‘emoções são instintivas’. Eu não acho, de jeito nenhum. Insito em dizer, mais uma vez que há mais complexidade no ser humano do que este misto econométrico e biológico [racionalidade X instinto].

  19. Geraldo, S. disse:

    Espero que não seja o tipo ansiosa.
     
    (“Sintetizado”, para não virar salada…)
     
    Certamente o Universo só existe, para nós, depois que tomamos consciência; mas esta consciência, neste caso, também significa perceber a sua independência – em relação aos nossos desejos e ideais. Tal percepção é proporcionada pela Razão, e naturalmente vai estar limitada ao seu campo de alcance, que, além de vasto, é mais do que suficiente – palavra de Humano! Nunca me peguei contando Visões de Mundo ou estrelas, mas se existe um número não me parece relevante. Tal vastidão se dá de modo que, por si só, já inviabilizaria até mesmo uma projeção (soberana) de “Pauta Universal”. Mas esta é apenas a deixa para eu explicar aquele “torpe” (entre parênteses).
     
    Boa parte da Humanidade se encontra inebriada na ideia – consciente, inconsciente, não posso afirmar – de que as coisas deveriam sempre correr conforme as escrituras – e aqui me refiro a Constituições e Livros “Sacros”. Escritos por outros humanos; quando não sonhadores rasos, prometedores rasos – às vezes, para piorar, ambos. Só que o mundo não é assim. No caso das constituições, o saldo se mostra positivo, pois a parcela – bem longe da prometida, como não poderia deixar de ser – da estabilidade que proporcionam aparentemente vale suas mazelas – digo isso baseado na observação de que Governos apenas angariam influência, enquanto religiões a perdem (Governos, entre suas transições e gêneros, apenas se solidificam com o passar dos séculos, enquanto a Igreja, longe da influência de outrora, presencia uma diminuição gradativa da Fé), e em minha opinião particular.
     
    O perigo em absolutizar “Igualdade” e “Justiça”, comprar a ideia de que devemos perseguí-las até sua (intangível e inevitavelmente relativa) perfeição, a procura pelo remédio do irremediável – a condição humana, imperfeita -, são aquilo que considero o estopim de verdadeiros desastres históricos como os presenciados no Século XX, mas outros de muito antes dele também.
     
     
     
    Todavia não há como discordar do fato de a concepção humana (ratiada em incontáveis matizes) integrar – limitando-se a tal – o Universo. Eu não o faria. Afinal: somos uma fração dele.

  20. Geraldo, S. disse:

    Definitivamente: nós não somos “100% racionais”. E nem precisamos!
     
    A Consciência, que viabiliza a supressão de nossos instintos (sobrevivência incluso), não requer “100%” de racionalidade. Só requer que sejamos conscientes em escala de “Razão” (processamento baseado no entendimento das possibilidades, ou, segundo nossos conhecimentos atuais sobre diversidade de Espécies: “Status Humano” – no caso aqui: de Indivíduo). No entanto, é o entendimento que varia. Uma vez conscientes de tal possibilidade (suprimir instintos), por que deveríamos, ou por que não deveríamos, fazê-lo? Bem, esta é a grande questão do dia-a-dia. E cada um tem sua(s) própria(s) resposta(s), seu(s) limite(s) particular(es), sua escolha.
     
    Aquilo que me motiva não necessariamente é motivador para o Outro. A possibilidade existe, e a decisão é autônoma.
     
    Uma coisa é certa: para o “Sim” e para o “Não”, sempre haverão consequências.

  21. Geraldo, S. disse:

    3. Materialismo
     
    Depois deste nosso papo, o que você (ainda) tem contra o consumismo superficial?

    • Geraldo, S. disse:

      Depois deste nosso papo, o que você (ainda) tem contra o consumismo “superficial”? (Faltaram os parênteses)

      • bonecapensante disse:

        como assim ‘ainda’? Sinto te informar, mas vc n me convencerá… rsrs
        E olhe que eu sou uma criatura aberta a mudar meus conceitos, mas eu diria que há alguns conceitos ‘pétreos’ e este é um deles. Se vc me vier com qualquer explicação ‘racional’ eu não rebaterei com outros agumentos ‘racionais’, usarei apenas a minha concepção moral sobre o fenÔmeno

        Eu poderia escrever um livro sobre o que eu tenho contra o ‘consumismo superficial’ [e olha que eu nem sou Marxista], mas me sinto bastante contemplada em estar destinando boas páginas da minha monografia de conclusão de curso a isso.

        • Geraldo, S. disse:

          Hm, previsão do futuro.
           
          Seríamos nós então, ao invés do misto “Racionalidade/Instintividade”, algo mais complexo como… “Racionalidade/Instintividade/Clarividência”?! Ou talvez não seja isso.
           
          Talvez a senhorita tenha como um de seus Princípios – e, apesar de não nutrir qualquer simpatia pela Moral, Princípios têm todo o meu respeito, contanto que não sejam, é claro, débeis, e com isso eu quero dizer: insustentáveis para o seu portador.
           
          Para mim duas pessoas podem estar seguindo exatamente o mesmo caminho, uma delas sendo avassaladoramente idiota por isso enquanto a outra não.
           
          Vou romantizar: para mim, cada ser capaz de acreditar em alguma coisa deve seguir aquilo no que acredita! Claro, enquanto for capaz de sustentar sua crença.
           
          Agora, caso você esteja de acordo, proponho “iniciarmos” este dia:
           
          O que é a Moral?

  22. Geraldo, S. disse:

    Deixa eu reformular, porque eu não quero saber o que é a Moral no dicionário. Eu não quero saber o que é a Moral para Kant…
     
    O que é a Moral, Tássia Camila?

    • bonecapensante disse:

      Hahaha… vc tem uma preocupação interessante em definir conceitos. Então vou falar a concepção de moral para Tássia Camila. Eu responderia: tudo. Mas já temos uma palavra que define o ‘tudo’ que é cultura. Então eu diria que, a meu ver, a moral segue um exercício dialético entre mundo exterior e mundo interior
      Mundo exterior = sociedade
      Mundo interior = indivíduo
      A moral são as leis, regras e padrões comportamentais do mundo exterior que por sua vez moldam o indivíduo e são anteriores a ele. Deste modo, toda a forma e concepção de mundo é moral e um produto de cada cultura específica. Há uma moral coletiva média que são as regras e padrões aceitáveis por [quase] todos. Tipo: ‘roubar é errado’; ‘matar é pecado’, etc. E há uma moral individual que tem como base a moral coletiva de cada sociedade, mas transcende de acordo com as vivências de cada um.
      Basicamente isso…

      • Geraldo, S. disse:

        Quando as pessoas não definem bem os seus conceitos, o resultado é uma sociedade como a que temos. Colocando de outro modo: touché!

        A obrigatoriedade inerente ao uso do cinto de segurança, dentre outras tantas, certamente não é objeto de uma lei Moral, mas sim Racional. (Quisera eu serem todas do segundo tipo.)
         
         
         
        Padrões comportamentais exteriores e anteriores ao Indivíduo, que detém o potencial de transcendê-los. Vamos ficar por aqui.
         
         
         
        Eu tenho uma posição particular – “coisa minha”, coincidentemente ou não, corroborada pela Ciência – de que sem o cérebro não é viável fazer escolhas, então pergunto:
         
        Qual é o momento onde buscar a validade (satisfação pessoal) da Existência Consciente, à própria maneira (ainda que isso signifique consumir “tudo o que se move”) como não poderia deixar de ser, deve se tornar menos importante do que a Cultura vigente em determinada fração de Terra?

  23. Geraldo, S. disse:

    “(…)A obrigatoriedade referente* ao uso do cinto de segurança, dentre outras tantas, certamente não é objeto de uma lei Moral, mas sim Racional. (Quisera eu serem todas do segundo tipo.)…”

    (Coisas do Domingo)

    • bonecapensante disse:

      “(…)A obrigatoriedade referente* ao uso do cinto de segurança, dentre outras tantas, certamente não é objeto de uma lei Moral, mas sim Racional. (Quisera eu serem todas do segundo tipo.)…”

      vc tem certeza? Pois se há uma lei de obrigatoriedade do cinto de segurança a racionalidade implícita nela seria qual?
      ‘Se vc não usar o cinto de segurança tem mais chances de morrer num acindente.’
      A racionalidade implícita tem como pano-de-fundo uma concepção moral: ‘a morte por acidente é algo extremamente horrível’. Poderíamos ir bem mais longe que isso, como, por ex, porque não tem cinto de segurança nos ônibus coletivos e tem nos carros de passeio. Poderíamos ainda imaginar que o ‘valor à vida’ obedece determinados padrões de classe social. Mas, fiquemos apenas com o exemplo que vc falou [lá bem em cima] de que não há justificativa racional para se querer o bem ao outro que não a nós e nossos familiares.
      Pois bem, se fosse apenas uma questão racional. Seria preciso mesmo uma ‘lei’ para obrigar e punir as pessoas que não usam o cinto de segurança? Se somos racionais, pq simplesmente não optamos por usar o cinto sem coerção moral?

      • Geraldo, S. disse:

        A racionalidade implícita – e por sinal, melhor implícita do que eu pensava – em uma lei que obriga a utilização do cinto de segurança é: arrecadação. E no fim, felizmente você entende, inconscientemente, o porquê: por ser simplesmente uma questão racional (o uso do cinto), e mais, de foro íntimo (correr riscos pessoais “desnecessários”). Agora, se você acredita mesmo que a obrigatoriedade no uso do cinto se dá porque o Estado te ama, é mais romântica do que eu pensava.

        (A propósito: não é obrigatório em ônibus (públicos) porque o Governo não intenciona, neste caso, arrecadar de si mesmo – seria algo idiota demais até para a nossa Espécie)

        Então, respondendo: sim, eu tenho certeza.
         
         
         
        Em breve eu volto para falarmos – ou não – do que interessa.

        • Geraldo, S. disse:

          Nota: Em “A racionalidade implícita – e por sinal, melhor implícita do que eu pensava – em uma lei que obriga a utilização do cinto de segurança é: arrecadação.”, a parte entre hífens foi sarcasmo. (É que às vezes eu não resisto.)

        • bonecapensante disse:

          oxente, mas não é vc quem acredita no ‘contrato social’ de promover a segurança? Acho o argumento da arrecadação fraco e irrelevante [vc fala arrecadação das multas ou arrecadação das empresas que fabricam o sinto de segurança?]

          se for o primeiro caso, é inconsistente pois a lei está tão impregnada em nós que são poucos os que se arriscam a andar sem cinto de segurança nos bancos da frente e ninguém é multado por usar o cinto nos bancos de trás.

          Se for o segundo caso, talvez vc tenha razão, mas aí a arrecadação por parte do Estado é mínima (com relação aos impostos sobre os fabricantes de cinto de segurança) se for analizado o omontante total de produção do próprio carro e todos os seu itens

  24. bonecapensante disse:

    “Qual é o momento onde buscar a validade (satisfação pessoal) da Existência Consciente, à própria maneira (ainda que isso signifique consumir “tudo o que se move”) como não poderia deixar de ser, deve se tornar menos importante do que a Cultura vigente em determinada fração de Terra?”

    Primeiramente, vamos considerar um pouco nossas concepções de racionalidade. Nós dois partimos do mesmo princípio: o homem detém ‘ação racional voltada para fins’ [Weber].

    As ações podem e são racionais. Mas os fins para qual elas estão voltadas não são racionais, são morais.

    Os fins de uma sociedade capitalista como a nossa, pode ser a aquisição de bens de consumo. Isso pra vc significa que é racional que ele queira consumir e esgotar todos os bens naturais da terra. Afinal, a única coisa que importa é a maximização dos seus interesses individuais. E, se o indivíduo abre mão disso, só o faz por coerção social ou por altruísmo.

    Mas se, por um segundinho só, pensarmos que estes fins são construídos socialmente e não natos ao ser humano [exceto, talvez aqueles fins básicos à sobrevivência como comer, dormir, etc.] poderemos relativizar [palavra perigosa, mas só encontro esta para usar] nossa noção do que é racional.

    Onde eu quero chegar com tudo isso? Mesmo que nossas ações sejam racionalizadas para a maximização dos nossos interesses, estes interesses nem sempre são racionais; eles atendem a uma coisa que, a meu ver, opõe-se ao racional: o desejo. Desejamos o tempo todo, porque somos humanos. Não desejamos apenas atender às nossas necessidades fisiológicas, pois seríamos animais. E, neste caso, ser humano, significa viver em sociedade.

    Tentando ser sintética, eu diria que a sua pergunta deveria ser reformulada. A satisfação pessoal nunca é menos importante que os padrões culturais da sociedade à qual ela se insere. Ela é, na verdade, um produto de sua sociedade. Se somos individualistas, egoístas, mesquinhos, separatistas, etc. O somos porque nossos padrões de sociabilidade são baseados nestes princípios e não porque geneticamente fomos concebidos assim.

    E vc tem razão ao advogar pela defesa dos conceitos, pois se simplesmente reformulássemos nosso conceito de ‘racional’ poderíamos encaixar todo este discurso de sociedade individualista como irracional. Se, por ex, considerássemos racional o fato de pensar sempre os efeitos a longo prazo e não a curto prazo, toda a sociedade pós-moderna ocidental seria chamada de irracional. Aí eu pergunto, é racional devastar florestas? Se o objetivo é o lucro material a curto prazo, é racional. Mas se pensarmos nas conseqüências disso a médio, longo prazo, é uma ação completamente irracional. Aí eu pergunto, é racional fazer a guerra? Novamente vai depender do que a sociedade prioriza [moralmente] como bom. Bom é o lucro, a supremacia do seu poder sobre os outros? Então a guerra é a coisa mais racional do mundo.

    Resumindo, se vc tem essa concepção do ‘racional’ não deve esquecer que ela não existe no mundo a priori; ela é um conceito humano, formulado por humanos para se auto-definirem ou, quem sabe, para se auto-justificarem moralmente.

  25. Geraldo, S. disse:

    A finalidade exclusiva à qual Racionalidade se volta é: Satisfação – isso já foi mostrado acima, enquanto falávamos sobre sermos escravos de nossa Vontade, impossível de sacrificar – exceto em detrimento dela própria, o que manterá sempre a presença da Vontade como Norte Imperativo.
     
    Racionalidade é fruto de processo evolutivo. Somos animais (mamíferos) portadores dessa ferramenta sofisticada. (Será que temos uma discordância aqui?!)

    Os fins de uma sociedade capitalista como a nossa são os mesmos de qualquer outra: Satisfação. Como se dão?! Isso não depende da Sociedade, depende do conceito de satisfação particular, do desejo individual. Ordem Social – na medida do possível – me agrada, e agrada a muita gente. Então aqui estamos – em sociedade – unicamente por isso, e estaremos enquanto isso permanecer sendo verdade. O problema de regimes totalitários, o problema da não compreensão da subjetividade humana, é que colocam o Coletivo como sendo anterior ao Individual. E sem o Individual não existe Coletivo. Por outro lado, o contrário é FALSO. Por isso o Comunismo – em todas as suas ramificações doentias – fracassou. A teoria jamais pôde ser concretizada, em todas as tentativas de aplicabilidade prática tornou-se uma aberração, porque é utópica.
     
     
     
    O grande problema aqui está sendo pensar que (enquanto Humano) sou produto do meu Meio Social, ao invés de seu idealizador.

    Não creio haver muito mais a explorarmos. O material exposto me parece suficiente à reflexão.

    • Geraldo, S. disse:

      “(…)A finalidade exclusiva à qual Racionalidade se volta é: Satisfação – isso já foi mostrado acima, enquanto falávamos sobre sermos escravos de nossa Vontade, impossível de sacrificar;* exceto em detrimento dela própria, o que manterá sempre a presença da Vontade como Norte Imperativo.”

  26. bonecapensante disse:

    Racionalidade é fruto de processo evolutivo. Somos animais (mamíferos) portadores dessa ferramenta sofisticada. (Será que temos uma discordância aqui?!)

    Velhu, não sei não… pq seria? Para mim um conceito tão abstrado não pode simplesmente ser fruto de um processo material. O que eu estou tentando argumentar o tempo todo é que a ‘racionalidade’ ou o que quer que se entenda por isso é uma criação humana. Você pode dizer que a capacidade de raciocinar é sim uma ferramenta sofisticada do humano. Aí eu aceito ainda que não possa afirmar que é uma capacidade apenas humana. E, em tempo, a capacidade de raciocinar, não necessariamente leva à racionalidade.

  27. bonecapensante disse:

    Bem, tenho diversas outras discordâncias com relação ao que você falou. Mas eu já percebi que entraremos em questões infinitas e que nunca cessarão… São duas concepções de mundo opostas. Com relação a quase tudo. Você [como eu] não quer nem será convencido de qualquer argumento que eu use. O ‘comunismo real’ foi um fracasso! Concordo em gênero, número e grau, mas o ‘capitalismo real’ é um sucesso? Olhemos, antes de responder, para as favelas, para os países miseráveis sem autonomia sobre seu próprio território. Olhemos que a ‘satisfação individual’ tão “inerente” ao ser humano só é desfrutado por uma parcela mínima. Enquanto a esmagadora maioria não pode se dar ao luxo de satisfazer sequer suas necessidades mais básicas. Mas nós podemos continuar consumindo desenfreadamente todos os recursos do planeta porque isso é agir em racionalidade. Não, não estamos nem aí para as sociedades futuras [o que eu acho razoável, até; já que somos imediatistas], mas não estar nem aí para a nossa própria sociedade, me desculpe, não me parece nem um pouco racional.

  28. Geraldo, S. disse:

    Para o Estado promover qualquer coisa neste mundo — e ele se “propõe” (segundo as necessidades que seus indivíduos projetam na sua construção) a promover algumas — é preciso dinheiro — afinal, sem fundos a existência do mesmo é inviabilizada. No caso da arrecadação — apontar a eventual meia ou uma dúzia de possibilidades geradas pela Lei, bem como discutir se é o “melhor” (mais efetivo) dos caminhos racionais possíveis, não é o ponto —, me referia a toda aquela potencialmente advinda da medida, que, este é o ponto: visa esse tipo de retorno, e encontra uma justificativa nos “benefícios” — de cunho verdadeiramente racional e individual — (oportunamente cobrados e) trazidos à população. Trata-se de uma intromissão, é verdade, mas com finalidade de arrecadar. Estado e sociedade não perseguem nem incineram, como era moralmente justificável fazer com as “bruxas” há alguns séculos — cuidado com a Moral, mulheres! —, aqueles que abdicam de utilizar o cinto.

    Vale dizer aqui, ainda, que apontei a “Segurança” (na medida do possível) como uma cláusula pétrea do “Contrato Social”, mas não única. A regulação estatal (ainda que imperfeita, vamos nos lembrar de não utopizar nada) sobre o cumprimento dos (sub-)contratos entre os Indivíduos, por exemplo, também é benéfica e importante na minha opinião.
     
     
     
    A propósito: entendo seu ponto a respeito da “racionalidade” dos (demais) animais. É algo como partilharem de nossa habilidade racional, de uma maneira rudimentar — e aqui entra a colocação: instintiva (sem margem para cálculo de suas ações).
     
     
     
    Vale ainda lembrar que “Capitalismo” (Karl Marx quem nomeou assim) não é uma suposta panacéia (utópica) para os males do mundo. Em lugar algum existem promessas da “Salvação”, típicas das utopias. É o caminho não-totalitário através do qual a Humanidade se relaciona em suas sociedades — onde existem, e sempre existirão, problemas diversos. “Capitalismo”, aliás, vai muito além do seu arcabouço de diretrizes que o credenciam como sistema econômico. A maneira de relacionar da qual advém as diretrizes “capitalistas” é inerente ao Homem — assim como todos os “defeitos” que normalmente lhe são associados (ambição; “egoísmo”; etc.), HUMANOS E NÃO DO SISTEMA, que através dele, como no caso de qualquer outro já criado ou a se criar (pela Humanidade), se manifestam.
     
     
     
    Respondidas as perguntas, e feitas algumas observações.

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